De desertos a geleiras, campos a florestas, as corujas ocorrem em quase todo o planeta e despertam o interesse da humanidade desde tempos remotos. Possuem algumas peculiaridades como capacidade de girar a cabeça enquanto os olhos permanecem paralisados, voo totalmente silencioso e audição apurada que possibilita a detecção de presas no escuro absoluto, características que transformaram as corujas em símbolo de sabedoria, mistério e inteligência. Sem nenhum fundamento, receberam a fama de agourenta. Guimarães Rosa, desmentindo tal absurdo, escreveu: “A coruja não agoura: o que ela faz é saber dos segredos da noite”. As corujas prestam enorme favor ao homem, equilibrando as populações de pragas agrícolas e urbanas.
Existem mais de 200 espécies de coruja no mundo, 23 no Brasil, sendo que a maioria apresenta hábitos noturnos e crepusculares, dificultando a sua observação. Entretanto, uma delas possui hábito diurno e ocorre na Lagoa dos Ingleses, oferecendo preciosa chance para contemplarmos essa fascinante criatura.
Trata-se da coruja-buraqueira, espécie que ocorre do sul do Canadá até a Terra do Fogo e em quase todo o Brasil, principalmente em ambientes campestres. Apresenta hábito terrícola e utiliza túneis no chão, formando galerias para reprodução, refúgio de adultos e filhotes. Quando ameaçados, os filhotes imitam o som do chocalho de cascavel no interior da toca, amedrontando o intruso. Alimenta-se preferencialmente de insetos e roedores, mas também de escorpiões, sapos, cobras e até morcegos.
Na região da Lagoa dos Ingleses, a coruja-buraqueira pode ser facilmente observada, inclusive em gramados, na proximidade de estacionamentos ou pousadas em placas de trânsito. Geralmente, vive em casais ou grupos familiares. Se você ainda não viu, aproveite para apreciar essa espécie que há muito tempo instiga a curiosidade humana e presta enorme serviço ecológico.
Coruja-buraqueira (Athene cunicularia) – Fotos: Lucas Carrara